Nos últimos anos, a criação de family offices tem crescido significativamente no Brasil, acompanhando o aumento de fortunas familiares. Essas estruturas são responsáveis por gerenciar e proteger grandes volumes de patrimônio e garantir uma estratégia de investimento alinhada aos objetivos de longo prazo da família. No entanto, a constituição e gestão de family offices muitas vezes acabam ficando em segundo plano, pois as famílias geralmente priorizam a administração das empresas que geram sua riqueza. Sem uma estrutura robusta de governança, o crescimento e a preservação desses ativos ao longo das gerações podem estar comprometidos.
O Cenário dos Family Offices no Brasil
O Brasil tem experimentado um aumento na demanda por family offices, em grande parte impulsionado pelo crescimento econômico. Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro alcançou R$ 10,9 trilhões, com um crescimento de 2,5% no segundo trimestre de 2024(IBGE). Famílias com grandes patrimônios buscam cada vez mais soluções estruturadas para gerenciar seus ativos, embora a administração das empresas operacionais geralmente receba maior atenção. Essa prioridade muitas vezes retarda a criação de um family office e deixa em segundo plano a governança dedicada dos ativos pessoais.
Por Que a Criação de Family Offices Fica em Segundo Plano?
O desenvolvimento e gestão de um family office são frequentemente vistos como secundários por dois motivos principais:
Foco na Geração de Riqueza: As empresas operacionais que geram a maior parte do patrimônio familiar tendem a ser o centro das atenções. A necessidade de garantir o sucesso e a expansão dessas empresas frequentemente ocupa o tempo e os recursos dos membros da família, deixando a governança do family office para segundo plano.
Complexidade Percebida: A criação de um family office requer a contratação de especialistas, como consultores financeiros e jurídicos, além de uma estrutura organizacional que inclui conselhos e comitês. Isso pode parecer um esforço adicional que, inicialmente, não é visto como prioridade.
A Importância da Governança no Family Office
A ausência de uma governança bem definida no family office pode resultar em decisões desalinhadas e falta de controle estratégico. Uma governança sólida é essencial para equilibrar os interesses dos diferentes membros da família, garantir a transparência e evitar conflitos. O Banco Central do Brasil ressalta que estruturas financeiras mais complexas, como os family offices, exigem supervisão rigorosa para garantir conformidade regulatória e segurança na administração dos ativos (Banco Central do Brasil).
O Risco da Dilapidação do Patrimônio ao Longo das Gerações
Sem uma gestão adequada, o patrimônio familiar corre o risco de se dilapidar ao longo das gerações. Estudos indicam que aproximadamente 70% das famílias perdem sua riqueza na segunda geração e até 90% na terceira geração. Isso ocorre porque, à medida que a riqueza é passada para herdeiros, aumenta o número de beneficiários e, com isso, o risco de gastos desmedidos e mal direcionados. A falta de preparo financeiro e de uma governança estruturada também contribui para a fragmentação do patrimônio. Sem planejamento, o que foi construído por uma geração pode se dissolver nas seguintes, reforçando o antigo ditado “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Uma governança forte e um planejamento sucessório eficiente são fundamentais para evitar esse destino.
Componentes Essenciais de uma Boa Governança em um Family Office
Cada família tem suas particularidades, e por isso, a governança deve ser personalizada para refletir seus valores e objetivos. No entanto, alguns elementos são amplamente recomendados para garantir uma estrutura sólida e funcional:
Acordo Familiar (Family Constitution): Um acordo formal que define as diretrizes de gestão patrimonial e como os membros da família devem se comportar em relação ao patrimônio. Ele abrange desde as políticas de investimento até as regras para sucessão e distribuição de recursos.
Conselho de Família (Family Council): O Conselho de Família é um fórum consultivo que reúne membros da família para discutir governança, alinhamento de objetivos e resolução de conflitos. Ele serve como um canal de comunicação entre a família e o family office, garantindo uma visão clara e coesa do futuro.
Comitê de Investimentos: Composto por especialistas e membros familiares, o comitê de investimentos assegura que as decisões estejam alinhadas com o perfil de risco e os objetivos da família. Esse comitê revisa periodicamente a carteira de investimentos para propor ajustes, quando necessário.
Conselho de Administração: Dependendo da complexidade do family office, pode ser necessário um Conselho de Administração que supervisione as operações. Ele costuma incluir membros familiares e profissionais externos que trazem expertise e uma visão imparcial.
Política de Distribuição de Renda: Uma política clara que define como e quando os membros da família podem acessar o patrimônio é fundamental. Ela ajuda a evitar expectativas desmedidas e a garantir a preservação dos ativos a longo prazo.
Benefícios de uma Governança Sólida no Family Office
Planejamento Sucessório Eficiente: A governança garante que a sucessão patrimonial ocorra de forma organizada, sem conflitos ou imprevistos.
Redução de Conflitos: Estabelecer regras formais para tomada de decisões e distribuição de recursos reduz as chances de disputas entre os membros da família.
Alinhamento Estratégico: Um family office bem governado garante que as decisões de investimento estejam alinhadas aos interesses e objetivos da família.
Proteção Patrimonial: A governança protege os ativos familiares, promovendo um gerenciamento de riscos eficiente e garantindo a continuidade do patrimônio ao longo das gerações.
Conclusão
Embora a gestão das empresas que geram o patrimônio familiar geralmente tenha prioridade, a criação e gestão de um family office com uma governança robusta é fundamental para garantir a preservação e o crescimento dos ativos familiares ao longo das gerações. Implementar uma governança sólida é mais do que uma necessidade; é uma estratégia para garantir que o family office se torne um pilar de sustentação do legado familiar.
À medida que a economia brasileira continua a crescer (IBGE), as famílias que priorizarem a criação de estruturas dedicadas para seus family offices estarão mais preparadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades de crescimento sustentável.
Referências
- Banco Central do Brasil. Disponível em: Banco Central do Brasil ( https://www.bcb.gov.br/en/statistics ).
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados do Produto Interno Bruto (PIB). Disponível em: IBGE – PIB ( https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php ).
- Williams Group Wealth Consultancy. Dados sobre a dilapidação de patrimônios familiares. Disponível em: ( https://www.thewilliamsgroup.org/ ) .
