09.out.2024

Equidade de Gênero: O Novo Pilar da Governança Corporativa

A governança corporativa desempenha um papel crucial na gestão e supervisão das empresas, visando a criação de valor sustentável e a proteção dos interesses de todos os stakeholders.
Stakeholders são indivíduos ou grupos que têm interesse ou preocupação em uma organização, podendo afetar ou serem afetados pelas suas atividades, objetivos e políticas. Isso inclui empregados, clientes, investidores, fornecedores, comunidades e órgãos reguladores. Compreender os stakeholders é essencial para as empresas, pois ajuda a identificar responsabilidades e o impacto de suas decisões sobre diferentes grupos.

Um dos fundamentos centrais da governança é a diversidade, especialmente em relação à equidade de gênero, que se revela não apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para impulsionar o desempenho organizacional.

 

A Importância da Diversidade de Gênero

Diversas pesquisas têm demonstrado que a diversidade de gênero nos conselhos de administração e nas equipes de liderança está associada a uma tomada de decisão mais eficaz e à inovação. Um estudo da McKinsey mostrou que empresas com mulheres em suas lideranças têm 21% mais chances de serem financeiramente bem-sucedidas. Além disso, a presença feminina em cargos de liderança pode levar a uma melhor compreensão do mercado e dos clientes, refletindo as necessidades de uma base de consumidores mais ampla.

No Brasil, a participação das mulheres em conselhos de administração é alarmantemente baixa, com apenas 15,2% ocupando essas posições, segundo dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Essa sub-representação é um reflexo de barreiras estruturais e culturais que precisam ser abordadas.

 

Ações e Iniciativas para Promover a Equidade de Gênero

Várias ações têm sido implementadas para promover a equidade de gênero no contexto da governança corporativa. Entre elas, destacam-se:

  1. Regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e B3: O Anexo ASG proposto pela B3 exige que as empresas listadas incluam pelo menos uma mulher e um integrante de comunidade sub-representada em seus conselhos de administração ou diretorias. Este modelo é baseado no princípio “pratique ou explique”, onde as empresas devem reportar suas ações em termos de diversidade ou justificar a ausência de progresso.
  2. Projetos de Lei e Cotas: No Brasil, há discussões sobre a criação de cotas para garantir a presença de mulheres nos conselhos. Esse modelo já se mostrou eficaz em outros países, como Noruega e Espanha, que estabeleceram percentuais obrigatórios para a inclusão feminina.(1)
  3. Programas de Capacitação e Mentoria: Iniciativas como o Programa de Diversidade em Conselho (PDeC) têm como objetivo preparar mulheres para assumir posições de liderança, proporcionando treinamento e acesso a uma rede de contatos que pode ser fundamental para suas carreiras.
  4. Flexibilidade e Licença Parental: A adoção de políticas que promovam a flexibilidade no ambiente de trabalho e licenças parentais equitativas são essenciais para permitir que tanto homens quanto mulheres possam equilibrar suas responsabilidades profissionais e familiares.

 

Reflexão sobre os Anseios da Sociedade

As empresas também devem refletir sobre os anseios da sociedade na concepção de produtos e serviços que facilitem a vida das pessoas. Isso envolve a criação de soluções que atendam não apenas às demandas do mercado, mas que também considerem aspectos sociais, culturais e ambientais. Quando as organizações incorporam as perspectivas e necessidades de diferentes grupos sociais em suas estratégias, elas não apenas ampliam sua base de clientes e consequentemente seu faturamento, mas também contribuem para uma sociedade mais inclusiva e sustentável.

 

Desafios e Oportunidades

Apesar dos avanços, ainda existem desafios significativos a serem superados. A cultura organizacional em muitas empresas ainda favorece a continuidade de práticas tradicionais que excluem as mulheres das posições de liderança. Além disso, as normas sociais que definem os papéis de gênero continuam a impactar a progressão na carreira das mulheres, especialmente após a maternidade.

A implementação efetiva de políticas de diversidade não deve ser vista apenas como uma obrigação legal ou moral, mas como uma estratégia essencial para a inovação e o crescimento sustentável das empresas. Como apontam estudos, a diversidade nas lideranças gera valor, tanto econômico quanto social, e é fundamental para a construção de um ambiente corporativo mais inclusivo e representativo.

A equidade de gênero é um pilar fundamental da governança corporativa moderna. À medida que as empresas brasileiras avançam na implementação de políticas e práticas que promovem a diversidade de gênero, será possível não apenas melhorar a performance organizacional, mas também contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. A conscientização e a ação coordenada de todos os stakeholders são necessárias para garantir que os princípios da diversidade sejam efetivamente incorporados nas práticas de governança. 

  1. https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2024/04/6830071-cotas-para-garantir-diversidade-nos-conselhos-de-administracao.html

_________________

Referências:

  1. B3. “CVM aprova medidas propostas pela B3 para aumentar diversidade em diretoria e conselhos de administração de empresas listadas.” Disponível em: [B3](https://www.b3.com.br).
  2. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Análise da participação das mulheres em conselhos e diretorias.” Disponível em: [IBGC](https://www.ibgc.org.br).
  3. McKinsey & Company. “Women in the Workplace 2022.” Disponível em: [McKinsey](https://www.mckinsey.com).
  4. Deloitte. “Women in the Boardroom.” Disponível em: [Deloitte](https://www2.deloitte.com/global/en/pages/about-deloitte/articles/women-in-the-boardroom.html).