29.nov.2024

De Simone de Beauvoir ao relatório da ONU MULHER 2024: Enfrentando a dura verdade da desiguIaldade de gênero.

Imagine um mundo onde você não precisasse lutar para ser reconhecida, onde seus sonhos fossem tão legítimos quanto os de qualquer pessoa ao seu redor. Um mundo onde você não tivesse que justificar suas escolhas, provar sua competência ou carregar nos ombros o peso das expectativas alheias. É esse mundo que Simone de Beauvoir vislumbrou em “O Segundo Sexo”, um livro publicado pela primeira vez em 1949 (!), e é também o mundo pelo qual o relatório da ONU Mulheres nos convida a lutar.  

Mas, sejamos francas, o caminho não é fácil. Entre as reflexões filosóficas de Beauvoir e os números duros e frios do relatório da ONU, há uma realidade que todas nós conhecemos: a desigualdade não é apenas um conceito, é algo que vivemos na pele.

Um Eco que Atravessa Décadas

Quando Simone de Beauvoir, em 1949, escreveu que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, ela estava falando de todas nós. Desde pequenas, somos ensinadas a ocupar espaços menores, a falar baixo, a cuidar, a colocar os outros em primeiro lugar. Quantas vezes você sentiu que precisava ser perfeita em tudo só para ser vista como “boa o suficiente”?  

Agora olhamos para os dados da ONU: mulheres fazem 2,5 vezes mais trabalho doméstico não remunerado que os homens. Esse número não é apenas uma estatística; ele está em cada prato lavado depois do jantar, em cada hora de sono perdida cuidando de alguém. E enquanto isso, lá fora, somos sub-representadas na política, nos cargos de liderança e até nas mesas de negociação. Sim, estamos cansadas. Mas, ao mesmo tempo, somos resilientes.

A Luta Pelo Corpo e Pela Voz

A violência contra a mulher não é um tema novo, mas ainda é devastador. Beauvoir nos alertou: o corpo feminino sempre foi controlado, seja pela moralidade, pela religião ou pelo casamento. Hoje, o relatório da ONU nos mostra que 1 em cada 8 mulheres sofre violência de parceiro íntimo anualmente. Isso não é só um número. É a amiga que evita falar sobre o que está vivendo. É a vizinha que nunca te contou o motivo das brigas em casa. É você, talvez, que carrega essa dor silenciosa.  

Mas aqui está algo poderoso: a luta pela igualdade é também uma luta para dizer “basta”. Basta de silenciamento, de culpa, de aceitar menos do que merecemos. Simone de Beauvoir acreditava que somos livres para escolher nosso destino. E escolher romper o ciclo da violência é um ato de coragem e liberdade.

O Trabalho Invisível e os Sonhos Negados

Quantas de nós já ouviram que “você trabalha demais” ou, pior, que “o que você faz em casa não é trabalho de verdade”? O relatório da ONU nos lembra que o trabalho invisível das mulheres mantém o mundo girando, mas nos prende a uma roda de desigualdade.  

Beauvoir sabia disso quando escreveu que, para sermos livres, precisamos de autonomia econômica. Mas como alcançar essa autonomia quando somos responsáveis por tantas tarefas que ninguém vê? Quando ganhamos menos que os homens, mesmo fazendo o mesmo trabalho? Ainda assim, há força em cada uma de nós. Mesmo quando o sistema parece contra nós, continuamos avançando, sonhando, criando.

Educação: A Porta para a Mudança

Quantas de nós encontramos liberdade nos livros? Beauvoir acreditava que a educação era a chave para nos libertarmos dos papéis que nos impõem. O relatório da ONU mostra que, embora mais meninas estejam frequentando escolas, 119,3 milhões de meninas ainda estão fora das salas de aula. Isso significa vidas inteiras de sonhos interrompidos.  

Mas se você está lendo isso agora, talvez tenha sido uma das sortudas que tiveram acesso à educação. Você sabe o poder que ela tem. E é nosso dever, como mulheres, exigir que nenhuma menina seja deixada para trás. Cada vez que uma de nós aprende, cresce ou conquista, estamos abrindo caminho para tantas outras.

A Força de Ser Mulher

Entre as palavras filosóficas de Simone de Beauvoir e os gráficos e tabelas do relatório da ONU, há algo que nenhuma estatística consegue capturar: a força de ser mulher. Sim, enfrentamos desigualdades, violência, jornadas duplas e expectativas impossíveis. Mas também somos as que cuidam, as que resistem, as que sonham.  

Somos a mulher que, mesmo exausta, levanta todos os dias para fazer o que precisa ser feito. Somos a menina que ousa dizer que quer ser cientista, mesmo quando ninguém acredita. Somos a avó que nunca teve as chances que merecia, mas que agora luta para que suas netas as tenham.

O Convite à Luta

Se Simone de Beauvoir estivesse viva hoje, ela provavelmente diria que o mundo mudou, mas não o suficiente. E o relatório da ONU nos dá uma mensagem clara: não podemos esperar mais. Precisamos agir.  

Cada escolha que você faz — seja exigir respeito no trabalho, votar em mulheres comprometidas com a igualdade ou apoiar outra mulher em sua jornada — é um passo nessa luta. Porque, no final, a igualdade de gênero não é apenas uma causa. É um sonho coletivo, um mundo que estamos construindo juntas, tijolo por tijolo.

Então, pergunte-se: o que você pode fazer hoje, por você e pelas mulheres ao seu redor? A mudança começa aqui, agora, com cada uma de nós.