A comunicação entre empresas e o governo é uma área complexa e estratégica, especialmente no Brasil, onde as interações entre o setor privado e o público são reguladas por normas rígidas e amplamente escrutinadas. De acordo com artigos científicos brasileiros, a comunicação corporativa com o governo precisa equilibrar transparência, ética e estratégias adaptativas para gerenciar a visibilidade e garantir um relacionamento institucional saudável. Este artigo aborda as melhores práticas e reflexões com base em estudos científicos relevantes, considerando o contexto e a evolução histórica no país.
Mais do que uma simples troca de informações, a comunicação com o governo envolve um entendimento profundo das expectativas, dos processos burocráticos e das legislações vigentes, como a Nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) e a Lei de Licitações anterior (Lei nº 8.666/1993). Dominar esses requisitos é apenas o ponto de partida. Para obter sucesso nesse cenário, é fundamental estruturar a comunicação de modo a refletir os valores de compliance, transparência e conformidade com as exigências legais e éticas que regem a administração pública.
A Evolução da Comunicação Organizacional no Brasil
Nas décadas de 1980 e 1990, a comunicação organizacional no Brasil passou por uma mudança significativa, com a incorporação de práticas mais abertas e transparentes para atender às expectativas da sociedade e do governo. Autores como Gaudêncio Torquato e Margarida Maria Krohling Kunsch foram pioneiros ao introduzirem uma visão de comunicação mais abrangente, que incluiu não apenas aspectos de relações públicas e comunicação interna, mas também um enfoque estratégico nas interações com stakeholders externos, como o governo. Isso marcou o início de uma era em que a comunicação organizacional começou a ser vista como um ativo estratégico para a construção de confiança e reputação, algo especialmente importante em um ambiente político e econômico em constante transformação.
Um dos principais desafios das empresas ao interagir com o governo é equilibrar o uso de uma linguagem técnica e formal com a necessidade de clareza e objetividade. Diferente da comunicação com clientes privados, onde a flexibilidade e o tom informal podem ser mais aceitos, o setor público exige precisão. Isso significa que cada documento, proposta ou contrato deve ser elaborado de maneira a evitar ambiguidades, demonstrando domínio das nuances jurídicas e operacionais dos processos licitatórios e de contratação pública. Afinal, cada palavra mal colocada pode gerar interpretações equivocadas e comprometer negociações importantes.
Estratégias de Visibilidade e Gerenciamento de Crises
No contexto atual, a comunicação com o governo não se limita a fornecer informações precisas e claras, mas envolve também o gerenciamento da visibilidade da empresa. Um estudo publicado pela SciELO Brasil destaca que empresas que interagem com o setor público frequentemente ajustam suas estratégias para gerenciar como e quando suas ações são expostas. Em contextos de instabilidade política e econômica, muitas organizações preferem adotar posturas de baixa visibilidade para evitar associações a temas polêmicos, enquanto mantêm um discurso público de conformidade e ética. Isso se aplica mesmo a organizações que operam de maneira legal e ética, que buscam se distanciar de situações que possam prejudicar sua imagem pública.
Além disso, as estratégias de invisibilidade e de retração podem ser interpretadas como uma forma de proteção e preservação da reputação organizacional, especialmente quando a mídia e o governo estão focados em escândalos e crises. Entretanto, mesmo em momentos críticos, é essencial que a comunicação corporativa não perca a transparência, pois essa prática é o alicerce de qualquer interação saudável com o setor público. A opacidade e a falta de clareza, em vez de proteger a imagem, podem comprometer a confiança construída e prejudicar o relacionamento a longo prazo.
A Comunicação como Ferramenta de Diálogo e Negociação
Uma das contribuições mais recentes ao campo da comunicação organizacional no Brasil é a aplicação do modelo dialógico e interativo proposto por Ivone de Lourdes Oliveira, que se baseia no conceito de “comunicação simétrica de mão dupla” de Grunig (1992). Segundo Oliveira, a comunicação deve ser um processo de negociação e construção de consenso entre as partes envolvidas, garantindo que tanto empresas quanto o governo possam atuar como interlocutores ativos no processo de comunicação. Esse modelo defende que, em vez de ser uma ferramenta meramente informativa, a comunicação deve facilitar a troca de visões e promover um espaço comum de interação, onde as expectativas de ambos os lados sejam equilibradas.
Isso significa que o processo de comunicação com o governo deve ser encarado como uma construção contínua de confiança e transparência, que vai além do fechamento de um contrato ou da execução de um projeto. Empresas que desejam se destacar nesse ambiente devem investir em canais de comunicação abertos e acessíveis, bem como em práticas de engajamento que permitam ouvir as demandas dos gestores públicos e responder a elas de maneira proativa.
A Base para um Relacionamento Sustentável: Transparência e Flexibilidade
Diferentemente de outras relações comerciais, a comunicação com o governo está sujeita a mudanças rápidas e imprevisíveis, muitas vezes motivadas por alterações no cenário político. Portanto, a adaptabilidade é uma característica crucial para qualquer empresa que deseje manter uma relação sólida com o setor público. A habilidade de ajustar mensagens e práticas às novas diretrizes e expectativas de gestores é o que permite à empresa se manter relevante e confiável.
Além disso, a transparência não é apenas um valor ético, mas uma necessidade estratégica. Em qualquer interação com o governo, é preciso garantir que todas as informações estejam facilmente acessíveis e que os processos internos sejam claros e rastreáveis. Isso evita ruídos que possam ser interpretados como falta de conformidade ou intenção de ocultar dados. Como reforça o estudo de SciELO, cada interação com o setor público deve ser vista como uma oportunidade de demonstrar compromisso e reforçar a credibilidade institucional.
Considerações Finais
A comunicação com o governo, quando ele é cliente da empresa, deve ir além da formalidade e conformidade com normas regulatórias. Deve ser uma prática estratégica que aborde a complexidade das interações sociais e políticas e que seja orientada por valores de ética, transparência e respeito ao interesse público. Em um ambiente cada vez mais digitalizado e dinâmico, a capacidade de se adaptar a diferentes cenários e de usar a comunicação para gerenciar percepções e construir confiança é um diferencial competitivo crucial para empresas que atuam no setor público. Afinal, mais do que fechar negócios, o objetivo é criar uma relação de confiança mútua, onde o diálogo transparente e o respeito às normas formam a base para um desenvolvimento sustentável e responsável.
Referências
– SciELO Brasil. “Comunicação organizacional e interesse público: estratégias de (in)visibilidade nas mídias sociais”. Disponível em: [SciELO](http://www.revistas.usp.br/organicom/art...). Acesso em 2024.
– OpenEdition Journals. “Comunicação pública no Brasil: passado, presente e futuro”. Disponível em: [OpenEdition Journals](https://journals.openedition.org). Acesso em 2024.